Ministro Fábio Faria diz que se 'arrependeu' por levantar suspeitas sobre rádios
O ministro das Comunicações Fábio Faria se diz arrependido de ter levantado suspeitas sobre falhas nas inserções em emissoras de rádio após o tema "escalar" e passar a ser usado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro para pedir o adiamento das eleições. Um dos coordenadores da campanha do candidato à reeleição, Faria disse que seu objetivo, ao convocar uma entrevista coletiva de imprensa na segunda-feira apontando um suposto boicote, era tentar um acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para compensar os eventuais prejuízos na propaganda de Bolsonaro. Mais cedo, ele disse ao jornal Folha de S.Paulo que as falhas eram do partido por perceber tardiamente o problema, e não do tribunal. — Entrei nesse tema para resolver inserção via inserção, para tentar mediar um acordo entre o TSE e a campanha. Quando esse assunto escalou, eu saí. Eu me arrependi porque o assunto escalou. Se fosse o tema só a inserção, tudo bem. Mas como entraram em outro assunto. Ele não escalou só por isso (inserções), escalou pela denúncia do funcionário do TSE e pediram adiamento (das eleições) — disse o ministro ao GLOBO. Faria cita o caso do servidor Alexandre Gomes Machado, que foi exonerado pelo TSE e procurou a Polícia Federal para prestar um depoimento na madrugada da quarta-feira (26). Aos investigadores, ele alegou que perdeu o seu cargo após ter informado seus superiores sobre uma suposta falha na veiculação de inserções em rádios de Bolsonaro. A Corte, porém, informou que a demissão foi motivada por "indicações de reiteradas práticas de assédio moral, inclusive por motivação política". Segundo a Corte, essas denúncias serão "devidamente apuradas". A operação da campanha de Jair Bolsonaro que levantou suspeitas sobre a não veiculação de inserções de propaganda do candidato à reeleição criou uma crise no QG bolsonarista.
Pontos de discórdia
Nos bastidores, tanto o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, quanto o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, cacique do PP, demonstram contrariedade com a mais nova investida contra o TSE. Segundo aliados, em caso de derrota de Bolsonaro no domingo, os dois expoentes do Centrão não devem embarcar numa eventual batalha para contestar o resultado das urnas. Nenhum deles participou da reunião convocada às pressas pelo presidente na noite de quarta-feira no Palácio da Alvorada para tratar sobre o tema. Outro ponto de discórdia na campanha de reeleição a presidente da República é que a coletiva em que Faria e o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten levantaram as suspeitas não contou com o aval de Valdemar, que não teria sido consultado sobre a empreitada. Cabe ao partido pagar as empresas que estão sendo contratadas para fazer as auditorias. Há ainda o temor que nova ofensiva contra o TSE possa atrapalhar até mesmo a aprovação das contas dos partidos. Foi o próprio ministro das Comunicações quem convocou a entrevista coletiva em frente ao Palácio da Alvorada pela redes sociais na segunda-feira à noite para tratar o que chamou de "fato grave". Na ocasião, Faria afirmou que teve uma reunião "informal" com o presidente do TSE , Alexandre de Moraes, sobre a auditoria contratada pela campanha e que esperava que o tempo de inserções fosse reposto. Moraes, contudo, rejeitou a ação por ausências de provas e inconsistências feitas no levantamento apresentado pela campanha de Bolsonaro. Determinou, ainda, apuração sobre possível "cometimento de crime eleitoral com a finalidade de tumultuar o segundo turno do pleito em sua última semana".